domingo, 28 de setembro de 2008

Behind Blue Eyes

Morreu na última sexta-feira, dia 26 de Setembro, o ator norte-americano Paul Newman. Com 83 anos de idade, ele lutava contra um câncer de pulmão, que fora noticiado pela imprensa no mês de Junho desse ano.

A estréia de Newman aconteceu nos palcos da Broadway, depois o ator foi para o cinema, onde viveu o boxeador Rocky Graziano no filme "Marcado pela Sarjeta" (1956), dirigido por Robert Wise, fazendo assim com que todas as atenções voltassem apenas para ele. Depois disso, sua carreira decolou, atuando em mais de 50 filmes, alguns deles que marcaram época, como "Exodus" (1960), "Os Criminosos não Merecem Prêmio" (1963), "Harper - O Caçador de Aventuras" (1966) ou "Butch Cassidy" (1969).

Além de ator, ele também dirigiu filmes como "Rachel, Rachel" (1968), que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, e "O Preço da Solidão" (1972), entre outros filmes. Recebeu ao todo nove indicações ao Oscar, premiado apenas uma única vez, como melhor ator em 1986, pelo papel em "A Cor do Dinheiro" (dirigido por Martin Scorsese), mesmo papel que lhe deu uma indicação ao prêmio em 1961, no filme "Desafio à Corrupção". Aos 61 anos, Newman foi homenageado pela academia de cinema norte-americana com um Oscar pelo seu conjuto da obra.
Os carros de corrida eram a segunda paixão do ator, que chegou a montar uma equipe e ganhou vários campeonatos. A três anos Newman sofreu um acidente durante os treinos, mas por sorte não se maxucou. Após anunciar há pouco mais de um ano que estava se aposentando dos cinemas devido à sua idade, o ator teve como seu último trabalho o longa-metragem de animação dos estúdios Disney e Pixar, "Carros", onde emprestou sua voz a um carro de corrida chamado Doc Hudson.


Atualmente o ator estava cotado para voltar a dar voz a seu personagem na continuação do animado.

Mesmo considerado um dos maiores símbolos sexuais, Newman sempre foi muito discreto quando o assunto tratado era sua vida intima. Casado a mais de 40 anos com a atriz Joanne Woodward, o ator teve três filhas, além dos outros outras duas filhas e um filho de seu primeiro casamento com Jackie White. Seu único filho homem, Scott, faleceu no ano de 1978 por uma overdose, causando um duro golpe para Newman, que criou um centro para a prevenção do uso de drogas, chamado Scott Newman Center.


Newman estava se dedicando a trabalhos filantrópicos e destinou cerca de US$ 250 milhões a diversos projetos no mundo todo. Além disso, o ator criou uma linha de produtos alimentícios, chamada de Newman's Own, pela qual sempre se orgulhou, já que todos os lucros que tinha eram destinados para diversas instiuições de caridade.
Sua morte foi divulgada apenas na manhã de sábado, pelo jornal "The Oregonian" e pela agência de notícias Associated Press. Nascido em 26 de janeiro de 1925, em Ohio (EUA), Newman sempre será conhecido por seus marcantes olhos azuis, além de ser um dos maiores atores da história de Hollywood.

A Newman o nosso adeus!

(Léo Francisco)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O desgaste das palavras


Sou um tonto. Dia destes recebi um recado na secretária eletrônica pedindo retorno urgente. Liguei. Era um corretor de imóveis querendo me vender um lançamento.

– Qual era a urgência? – perguntei, irritado.

– Bem... Estamos selecionando alguns clientes e...

Conversa mole. As pessoas usam a palavra "urgente" em mensagens de todo tipo. Ainda sou daqueles que se assustam de leve com um e-mail "urgente". Para logo descobrir que se trata de um assunto muito corriqueiro. A palavra está perdendo a força. Daqui a pouco não vai significar mais nada. A mesma coisa acontece com o verbo "revelar". Abro uma revista e vejo: fulana de tal "revela" que gosta de ir à praia. Ou: a atriz tal "revela" que vai pintar o cabelo de loiro. Isso é revelação que se preze? Resultado: quando se quer realmente revelar algo se usa "denuncia" ou "confessa". Até que também sejam desgastadas pelo uso impróprio.

E vip? A sigla surgiu como abreviação de "very important people". Os vips tinham acesso preferencial a festas e eventos de todo tipo. Obviamente, todo mundo quis ser tratado como vip. Alguns shows e camarotes carnavalescos ficam lotados por manadas de vips. Para diferenciar "vips" entre si, nos lugares mais disputados surgiram chiqueirinhos para os "supervips" ou "vips dos vips". Em resumo: "vip" não significa absolutamente coisa nenhuma – somente que a pessoa é rápida para descolar um convite com pulseirinha.

Os anúncios imobiliários são pródigos em detonar palavras. "Exclusivo" é um exemplo. Quase todos falam em "condomínio exclusivo", "espaço exclusivo" (e não havia de ser, se o proprietário está pagando?). De tão comum, "exclusivo" deixou de ser "exclusivo". Veio o "diferenciado". Ou "único". Mas como um apartamento pode ser "diferenciado" ou "único" se está em um prédio com mais cinqüenta iguais?

Elogiar também ficou difícil. Antes bastava dizer:

– Você está bonita.

A cortesia não exige sinceridade. Mesmo que a sujeita pareça ter saído de um sarcófago, sempre se dá um jeito de dizer que está bem.

– Que vestido lindo! Você ficou bonita.

Portanto, se quero realmente adoçar, digo:

– Você é muito bonita.

Algumas vezes parece pouco, e atinjo os píncaros:

– Você é o máximo.

Mas o que vem depois de "máximo"? Já andaram usando "deusa", mas acho meio cafona. E "santa", por incrível que pareça, perdeu o jeito de elogio, principalmente para quem acaba de fazer regime, botou silicone nos seios e fez preenchimento labial.

A palavra "amigo" é incrível. Implica uma relação especial. A maioria fala em "amigos" referindo-se a conhecidos distantes. Pode ter visto a pessoa duas ou três vezes e já é "amigo". O mesmo ocorre com "abraço". Terminar uma mensagem com um "abraço" era suficiente. Se envio um abraço é porque realmente tenho vontade de oferecer meu carinho. Foi tão banalizado que agora se usa "grande abraço", "forte abraço". Já é pouco, e surgiu o "beijo no coração" no fim das mensagens realmente amigáveis. A seguir, o que virá? Algum termo cirúrgico? Minha imaginação não alcança.

Minha vontade é voltar a usar os termos com a força que eles realmente têm: "abraço" é "abraço", "amigo" é "amigo". Por que deixar as palavras se desgastarem? Se o que têm de mais belo é justamente sua história e o sentimento que contêm? Enfim, tudo o que lhes dá realmente significado.


( Walcyr Carrasco)